DCNT: como o Brasil poderia evitar mais de 300 mil mortes prematuras por ano
DCNT, a sigla para Doenças Crônicas Não Transmissíveis, representa um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. Este grupo de doenças é a principal causa de mortes globalmente, responsável por quase três quartos de todos os óbitos, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS).
No Brasil, as DCNTs responderam por 316.016 mortes prematuras (de 30 a 69 anos) em todos os municípios do país em 2021, de acordo com dados do DATASUS-SIM consultados no Observatório da Saúde Pública. Considerando a população nessa faixa etária, o número corresponde a uma taxa de 299,1 mortes a cada 100 mil habitantes.
A OMS estima que 150 milhões de adultos morrerão prematuramente por essas doenças nos próximos dez anos. Por isso, o órgão propõe três linhas de ação estratégicas:
- Acelerar a resposta nacional com base na epidemiologia e nos fatores de risco para DCNTs, assim como nas barreiras e nos facilitadores identificados;
- Priorizar e ampliar a implementação das intervenções mais impactantes e viáveis;
- Garantir dados nacionais oportunos e confiáveis sobre os fatores de risco e a mortalidade por DCNTs para orientar as ações.
O objetivo do Observatório da Saúde Pública é contribuir para a disseminação e o acesso a informações de saúde no Brasil por meio de uma plataforma de consulta livre, que reúne dados sobre as Doenças Crônicas Não Transmissíveis e a Atenção Primária à Saúde (APS). Leia abaixo recortes a partir de dados sobre DCNTs disponíveis na plataforma.
DCNT: o que é e quais os fatores de risco
As DCNTs se caracterizam pela origem não infecciosa, longos períodos de latência e curso prolongado. Outra característica comum são as causas multifatoriais.
Parte dos fatores de risco são não-modificáveis, como idade, sexo e hereditariedade. No entanto, grande parte dos fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis são modificáveis ou comportamentais, sendo os principais: tabagismo, alimentação não saudável, atividade física insuficiente e consumo nocivo de álcool.
Alguns dos principais tipos de doenças crônicas não transmissíveis:
- Hipertensão;
- Diabetes;
- Câncer, como o câncer de mama, câncer de próstata e câncer de traqueia, brônquios e pulmão.
DCNTs e fatores de risco em comum
Tabagismo | Alimentação não saudável | Atividade física insuficiente | Consumo nocivo de álcool | |
Hipertensão | X | X | X | X |
Diabetes | X | X | X | X |
Câncer | X | X | X | X |
Numerosas mortes podem ser prevenidas, sendo crucial para isso enfrentar os principais fatores de risco. Essa medida tem o potencial de prevenir ou atrasar problemas de saúde significativos e reduzir substancialmente o número de óbitos relacionados a DCNTs.
Dados em saúde: mortes prematuras por DCNT no Brasil
Os dados do SIM-DATASUS (2021) destacados abaixo apontam que as DCNTs são um problema de todos. No entanto, a desigualdade no acesso à saúde está relacionada à disparidade na ocorrência dessas doenças, assim como a desigualdade de renda e a pobreza.
Assim, no recorte por escolaridade foi possível notar a maior diferença. Pessoas com 12 ou mais anos de estudo corresponderam a 8,3% do total de mortes prematuras por DCNT no país, enquanto as pessoas menos escolarizadas (até sete anos de estudo) foram mais da metade (52,7%).
Em outros recortes, como o de gênero, houve maior equilíbrio. Os homens representaram 56,2% das mortes, enquanto as mulheres, 43,8%.
Por fim, no recorte por raça ou cor, a população negra (conjunto de pretos e pardos) correspondeu a metade das mortes (50,4%, ou 159.414 mortes), seguida da população branca (46,7%).
Além das perdas prematuras de vidas e do agravamento da qualidade de vida, a alta incidência de DCNTs resulta em sobrecarga dos sistemas de saúde, impactando negativamente o desenvolvimento econômico. Por exemplo, os gastos com internações por diabetes no SUS e na rede particular conveniada foram superiores a R$ 128 milhões em 2022, conforme dados do SIH-DATASUS consultados no Observatório da Saúde Pública.
Para reverter essa situação, é imperativo assegurar a criação e a aplicação de políticas públicas eficazes na gestão dos fatores de risco relacionados às Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs).