Sinal de alerta: consumo de álcool no Brasil em alto patamar há mais de uma década
Dados na plataforma do Observatório da Saúde Pública mostram que o consumo de álcool no Brasil se mantém em altos patamares desde o início da série histórica. De 2006 a 2023, o percentual de adultos nas capitais brasileiras que ingerem bebida alcoólica em pelo menos um dia da semana se manteve continuamente acima de 25%, indica o Vigitel.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) determina que não existem limites seguros para o consumo de álcool. É considerado consumo regular a ingestão de álcool em três ou mais dias na semana; já o uso abusivo é caracterizado pela ingestão de quatro ou cinco doses em uma mesma ocasião, para mulheres e homens, respectivamente.
O abuso de álcool contribui para mais de três milhões de mortes por ano no mundo e mais de 5% da carga global de doenças e lesões. É também um importante fator de risco para as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), entre elas câncer e doenças cardiovasculares, além de distúrbios mentais e comportamentais. Há ainda as perdas sociais e econômicas, com consequências em diversas esferas nas vidas daquelas pessoas que abusam de bebidas alcoólicas.
Alcoolismo ou etilismo: o uso nocivo de álcool
O uso nocivo de álcool apresenta-se como um conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após a ingestão repetida de álcool. Caracteriza-se como uma doença crônica de causa multifatorial, principalmente relacionada a quantidade e frequência do consumo de bebidas alcoólicas, além da condição de saúde do indivíduo e a fatores genéticos, psicossociais e ambientais.
A pesquisa Covitel, com dados do 1º trimestre de 2023, apontou que 22,1% da população adulta brasileira havia feito consumo abusivo de álcool nos 30 dias anteriores ao levantamento.
Entre os principais sintomas de alcoolismo estão:
- Forte desejo de beber;
- Dificuldade de controlar o consumo;
- Uso continuado, apesar de consequências negativas;
- Aumento da tolerância;
- Por vezes, um estado de abstinência física (como sudorese, tremores e ansiedade).
Seu uso abusivo também pode estar relacionado a comportamento antissociais e violência doméstica, além de danos sociais como acidentes de trânsito e agressões.
Consumo de álcool entre a população brasileira
A ingestão de bebidas alcoólicas é maior entre os homens nas capitais brasileiras, mas mantém relativa estabilidade, em altos patamares, também para as mulheres.
Os dados também indicam que a ingestão de bebidas alcoólicas tende a aumentar conforme os anos de escolaridade, sendo a maior prevalência entre aqueles que estudaram por 12 anos ou mais. Dados de 2023 mostram que o consumo de álcool nas capitais brasileiras por esta população somava 34,3%. O número é seguido por 26,7% para pessoas com 9 a 11 anos de estudo e 23,2% para quem estudou até 8 anos.
Atualmente, a maior prevalência no uso de álcool nas capitais brasileiras está na faixa etária que vai dos 25 aos 34 anos, com 35,4% da população ingerindo bebidas alcoólicas, ainda de acordo com o Vigitel. Por outro lado, a população acima de 65 anos representa a menor prevalência: 17,6% em 2023.
Considerando o consumo de álcool entre jovens, chama atenção que a faixa etária de 18 a 24 anos liderou o índice de consumo abusivo de álcool da pesquisa Covitel em 2023. Entre os mais jovens, 8,1% relataram consumo regular, enquanto 32,6% fazem uso abusivo e 4,8% demonstram risco ou dependência de bebidas alcoólicas.
Prevenindo o uso nocivo do álcool
Embora o abuso de bebidas alcoólicas tenha origem multifatorial, diferentes iniciativas podem contribuir para a prevenção do uso nocivo do álcool. Autoridades públicas – não somente as de saúde – devem formular e implementar políticas públicas que reduzam o abuso, bem como monitorar o seu andamento para eventuais ajustes.
Entre os mecanismos estão a regulação da comercialização de bebidas alcoólicas, a restrição ao acesso, o aumento da tributação e a sensibilização da população para os problemas relacionados ao uso nocivo de álcool. Em outra ponta, devem ser oferecidas opções de tratamentos acessíveis e a criação de programas com o objetivo de identificar e evitar as consequências advindas da ingestão abusiva de bebidas alcoólicas.