Longevidade e saúde: como o Brasil está se preparando para uma população mais idosa
O Brasil está envelhecendo em ritmo acelerado e, pela primeira vez, há mais idosos do que jovens no Brasil. No período de 2000 a 2023, a proporção de idosos (60 anos ou mais) na população brasileira quase duplicou, subindo de 8,7% para 15,6%, ultrapassando os 14,8% dos que têm entre 15 e 24 anos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além de uma mudança demográfica, esse avanço na longevidade representa um desafio para o sistema de saúde. Em apenas duas décadas, os idosos devem se tornar a maior parcela da população brasileira — e o país precisa se preparar agora para garantir qualidade de vida, cuidado contínuo e acesso eficiente aos serviços de saúde.
Um estudo do Ministério da Saúde, publicado em 2018, já mostrava a dimensão desse desafio: 69,3% dos idosos brasileiros convivem com pelo menos uma doença crônica. As mais frequentes são hipertensão, dores na coluna, artrite, depressão e diabetes.
Nos dados do Observatório da Saúde Pública da Umane, é possível ver como o envelhecimento da população já impacta diretamente os indicadores de saúde e revela tendências importantes sobre doenças crônicas e atenção primária.
Maior prevalência de diabetes e hipertensão após os 55 anos
O diabetes é uma delas. A prevalência dessa condição, especialmente o tipo 2, cresce significativamente com a idade, e os dados do Vigitel, disponíveis no Observatório, refletem isso: Em 2023, foram registrados 1.075.833 casos entre pessoas de 55 a 64 anos nas capitais brasileira, e 1.255.902 casos entre pessoas de 65 anos ou mais, o que corresponde a 22,1% e 30,4% de prevalência nessas faixas etárias. Para comparação, na população geral das capitais a prevalência é de 10,1%.
Além de mais frequente nas idades avançadas, o diabetes tende a se agravar ao longo dos anos quando não é controlado, aumentando o risco de complicações cardiovasculares, renais e outras condições que comprometem a qualidade de vida.

Situação parecida acontece com a hipertensão. Em 2023, foram registrados 2.460.069 casos entre pessoas de 55 a 64 anos nas capitais e 2.673.205 casos entre pessoas de 65 anos ou mais, representando 50,5% e 60,4% de prevalência, respectivamente. Na população geral das capitais, o percentual é de 28,1%.

Outra doença fortemente associada ao envelhecimento é o câncer colorretal. Apesar do crescimento expressivo de casos entre pessoas mais jovens nos últimos anos, é uma condição que afeta majoritariamente pessoas com mais de 50 anos. Segundo dados do DATASUS-SIM, os óbitos por esse tipo de câncer em pessoas acima dos 55 anos cresceram de 12.377 em 2013 para 20.683 em 2023, um aumento expressivo de quase 70% em uma década.
Obesidade e sobrepeso associadas à longevidade
Embora a longevidade da população esteja relacionada ao aumento de doenças crônicas não transmissíveis, sobrepeso e obesidade também estão associados a diversas DCNTs e podem ter grande impacto na qualidade de vida e nos sistemas de saúde.
Pesquisa Covitel, consultada no Observatório da Saúde Pública da Umane, mostra que, em 2023, 56,8% das pessoas acima de 65 anos estavam com sobrepeso ou obesidade. Entre aquelas de 55 a 64 anos, o percentual era de 59,9%. Na população em geral esse percentual também foi de 56,8%.
Além da conhecida relação com doenças cardiovasculares e diabetes, a obesidade também tem associação com alguns tipos de câncer. Uma meta-análise, método que reúne resultados de diferentes pesquisas, indica que indivíduos com obesidade têm um risco 25% a 57% maior de desenvolver câncer colorretal.
O excesso de gordura abdominal, distribuído entre os órgãos, atua como um tecido metabolicamente ativo, capaz de produzir diversas substâncias, inclusive pró-inflamatórias. Há evidências de que inflamações leves e persistentes podem causar danos celulares e favorecer o desenvolvimento do câncer.
Novos hábitos para combater obesidade e doenças crônicas
A atividade física é uma das estratégias mais eficazes para reduzir a obesidade, prevenir doenças crônicas, fortalecer o sistema respiratório e melhorar o bem-estar mental. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda para todos os adultos — inclusive pessoas com mais de 60 anos — pelo menos 150 minutos de atividade física moderada por semana.
Para quem tem 60 anos ou mais, a OMS acrescenta recomendações importantes: incluir exercícios de fortalecimento muscular em pelo menos dois dias da semana e atividades de equilíbrio três vezes por semana, para prevenir quedas e melhorar a autonomia.
Mesmo assim, a pesquisa Covitel 2023 revela que apenas 18,9% dos brasileiros com mais de 65 anos atingem o tempo e a intensidade recomendados. Essa meta pode ser alcançada com hábitos simples, como 30 minutos de caminhada em cinco dias da semana, aliados a exercícios de força e equilíbrio.

A alimentação é outro pilar fundamental para evitar o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis em qualquer idade. Estudos nacionais e internacionais apontam a relação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e diversas doenças.
A Pesquisa Vigitel 2023, que considera a população das capitais com 18 anos ou mais, mostrou que a alimentação é mais equilibrada entre as pessoas mais velhas. Ao analisar o consumo recomendado de frutas e hortaliças e a ausência de refrigerantes ou alimentos ultraprocessados, observou-se que 21,7% das pessoas entre 55 e 64 anos consomem frutas e hortaliças conforme o indicado, cinco ou mais porções por dia, em pelo menos cinco dias da semana. Entre aquelas com 65 anos ou mais, o percentual é de 21,5%. Na população geral, o índice cai para 17,5%.
Independentemente da idade, manter hábitos saudáveis é fundamental para longevidade e uma vida mais ativa. Praticar atividades físicas, ter uma alimentação equilibrada e realizar acompanhamentos regulares na rede pública de saúde são atitudes que fazem diferença no envelhecimento. Nesse contexto, a Atenção Primária à Saúde (APS) tem papel essencial: é ela quem acolhe, orienta e acompanha as pessoas ao longo da vida, prevenindo doenças e fortalecendo o cuidado contínuo — o que é cada vez mais importante em um país que envelhece rapidamente.

