Poluição e doenças respiratórias: impacto na saúde brasileira
A poluição do ar é uma das principais ameaças ambientais à saúde pública. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2021, cerca de 7 milhões de mortes prematuras por ano foram diretamente associadas à poluição atmosférica. Esse fenômeno ocorre devido à presença de poluentes no ar gerados, principalmente, por atividades humanas. A queima de combustíveis fósseis, emissões industriais e agrícolas, bem como o tráfego intenso de veículos também são causadores.
No inverno, a poluição do ar tende a piorar devido à combinação de fatores como a baixa precipitação das chuvas e a inversão térmica. Isto é: uma camada de ar quente se mantém acima de uma camada de ar frio. O movimento impede a dispersão dos poluentes para cima e fazendo com que eles se concentrem mais próximos à superfície.
Em ambientes fechados, no entanto, as pessoas também estão expostas a uma série de poluentes, como a fumaça do tabaco e de materiais de construção. A exposição ocorre também por gases gerados por atividades cotidianas, como cozinhar utilizando fogueiras ou acendedores movidos a querosene, assim como lenha e carvão.
De acordo com estudo da Plataforma de Transição Justa, com curadoria da Agenda Pública, cerca de 12 milhões de brasileiros ainda utilizam lenha para cozinhar. Essa prática libera substâncias que irritam vias respiratórias e pulmões, comprometem o sistema imunológico e diminuem a eficiência do transporte de oxigênio pelo sangue.
Como a poluição aumenta os casos de doenças respiratórias
A poluição do ar afeta os pulmões e o sistema respiratório, contribuindo para o aparecimento de problemas respiratórios ou agravamento de condições pré-existentes, como:
- Asma: a poluição do ar pode desencadear crises asmáticas em indivíduos sensíveis, além de agravar os sintomas em quem já é diagnosticado.
- Bronquite: a exposição constante a poluentes contribui para o desenvolvimento e agravamento dessas condições.
- Enfisema: a destruição dos alvéolos pulmonares, causado pela exposição a poluentes como o monóxido de carbono e partículas finas, é uma das causas do enfisema.
- Câncer de pulmão: a exposição prolongada à poluição do ar é um fator de risco conhecido para o desenvolvimento de câncer de pulmão.
Em 2024, foram registradas mais de 159 mil internações por doenças pulmonares e 52 mil por asma em todos os municípios do Brasil. Esses dados são do SIH-DATASUS disponíveis no Observatório da Saúde Pública.
No dois cenários, os grupos mais afetados foram crianças de zero a 4, e 5 a 14 anos, bem como idosos acima de 65 anos.


Em relação às internações por câncer de pulmão, foram mais de 22 mil no Brasil no ano passado, segundo a mesma fonte. Nesse caso, os grupos mais afetados são pessoas com mais de 55 anos.
Além dos idosos e crianças, também estão entre os grupos mais vulneráveis trabalhadores como motoristas, motociclistas, guardas de trânsito e operadores de máquinas agrícolas. Esses perfis têm mais contato com contaminantes do ar.
Outros grupos de vulnerabilidade são as mulheres responsáveis pelos serviços domésticos. Elas passam boa parte do tempo em ambiente pouco ventilado e utilizando combustíveis sólidos ou fósseis (lenha ou querosene) no preparo de alimentos, aquecimento e iluminação.
Poluição e o aumento do risco de morte
O crescimento do nível de poluição atmosférica pode aumentar até 12% o risco de morte por doenças respiratórias em dias de “pico” de contaminação do ar. No entanto, uma exposição prolongada por meses ou anos, mesmo a níveis relativamente baixos de poluição, pode provocar doenças das vias respiratórias em pessoas saudáveis, agravar o quadro de quem já tem problemas respiratórios e também levar à morte.
Em 2022, por exemplo, foram registradas 176.073 óbitos por doenças do aparelho respiratório no Brasil, de acordo com os dados do SIM-DATASUS disponíveis no Observatório da Saúde Pública. É o equivalente a 87 mortes a cada 100 mil habitantes, taxa de mortalidade que aumenta para 112,6 no Rio de Janeiro (RJ), maior número entre as capitais, segundo a mesma fonte.

Outra grave consequência da exposição prolongada à poluição é o estresse oxidativo das células do sistema respiratório, contribuindo para uma maior incidência de cânceres de traquéia, brônquios e pulmão. Tumores deste tipo foram responsáveis por 31.239 óbitos no Brasil em 2023, conforme dados do SIM-DATASUS.
O monitoramento contínuo da qualidade do ar constitui uma importante ferramenta para a redução da poluição, contribuindo para a promoção da saúde e manutenção dos recursos naturais.
É importante também a criação de políticas públicas para a redução da pobreza energética, que obriga muitas pessoas, principalmente mulheres e crianças, a entrarem em contato com combustíveis, como lenha e querosene, muito mais nocivos à saúde do que o gás de cozinha.
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