Observatório analisa: Obesidade

Publicado em 05/07/2024

A obesidade é uma questão de saúde pública crescente no Brasil.  De acordo com um levantamento do Ministério da Saúde realizado nas capitais do Brasil, a proporção de brasileiros com excesso de peso (sobrepeso/obesidade) aumentou de 42,4% em 2006 para 61,2% em 2023. Mais especificamente, a prevalência de obesidade subiu de 11,9% para 24,5% neste mesmo intervalo, sendo maior entre as mulheres. Fatores de risco como atividade física insuficiente, alimentação inadequada e genética contribuem para essa prevalência. Além disso, a obesidade está associada a doenças crônicas como diabetes, hipertensão e doenças cardíacas. Nesse sentido, políticas públicas de promoção à saúde e prevenção são essenciais para combater a obesidade no país.

O QUE É OBESIDADE?

A obesidade é uma condição complexa caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal. É geralmente medida pelo Índice de Massa Corporal (IMC), que considera a divisão do peso pelo quadrado da altura do indivíduo. Esta medida classifica um IMC igual ou maior que 30 como quadro de obesidade em adultos. Os sintomas da obesidade podem não ser evidentes e variar de pessoa para pessoa. No entanto, o aumento do peso e a alteração na forma do corpo são os sinais visíveis mais comuns. Outros sintomas podem incluir fadiga, dificuldade para realizar atividades físicas, dor nas articulações e na coluna, falta de ar e aumento da transpiração.

A obesidade é uma questão de saúde pública global, associada a várias doenças crônicas, como diabetes tipo 2, doenças cardíacas, hipertensão e certos tipos de câncer. Além disso, a obesidade pode afetar a qualidade de vida, limitando a mobilidade e interferindo na rotina diária do indivíduo.

Fatores genéticos, comportamentais e ambientais contribuem para o desenvolvimento da obesidade. O sedentarismo e a alimentação inadequada, rica em produtos ultraprocessados e com alto teor de açúcar e gordura são os fatores de risco mais associados ao agravo da obesidade.

No entanto, o ambiente em que vivemos também pode influenciar no desenvolvimento da condição, como a limitação de espaços seguros para prática de atividades físicas, pouco acesso à informação e alimentação saudável, e alto estímulo ao consumo de alimentos industrializados com alto grau de processamento.

O tratamento da obesidade envolve uma abordagem multifatorial, incluindo mudanças no estilo de vida, como dieta equilibrada e atividade física regular. Em alguns casos, pode ser necessário o uso de medicamentos ou a realização de cirurgia bariátrica. O acompanhamento médico é fundamental para o sucesso do tratamento e para a manutenção do peso saudável a longo prazo.  Em suma, a obesidade é uma condição complexa que requer atenção e cuidados específicos para prevenir complicações e melhorar a qualidade de vida das pessoas afetadas. Desta forma, é fundamental compreender os fatores de risco, os sintomas e as características da obesidade para realizar abordagens eficazes e promover uma vida saudável e equilibrada. 

A OBESIDADE NO BRASIL

Os casos de obesidade têm aumentado substancialmente no Brasil. Segundo a pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), 61,2% da população brasileira está acima do peso. Os dados indicam que, em 2023, 36,7% da população das capitais brasileiras apresentaram sobrepeso (IMC maiores ou iguais a 25 e menores que 30), enquanto 24,5% foram diagnosticadas com obesidade (IMC maior ou igual a 30). 

A prevalência da obesidade varia de acordo com o sexo, anos de estudo e faixa etária. Segundo o Vigitel, as mulheres apresentam uma prevalência de obesidade ligeiramente maior, com 24,8%, em comparação aos homens, que têm uma taxa de 24,2%.

Quanto aos anos de estudo, a obesidade é mais comum entre pessoas com menor escolaridade. Pessoas com até 8 anos de estudo têm uma prevalência de 27,3%, enquanto aquelas com 12 anos ou mais registram uma taxa de 22,7%.

Já em relação à faixa etária, a obesidade aumenta com a idade, sendo mais comum entre os adultos de 45 a 54 anos (30,8%) e menos comum entre os jovens de 18 a 24 anos (13,4%). Além disso, em adultos com 65 anos ou mais a taxa de obesidade é 22,7%. Apesar das diferenças entre as prevalências segundo sexo, anos de estudo e faixas etárias, o aumento ao longo dos anos é observado em todas as categorias.

Internações

No Brasil, a taxa de internação por obesidade aumentou significativamente entre 2008 e 2019, saindo de 2,6 para 8,2 a cada 100.000 habitantes. Nos anos de 2020 e 2021, auge da pandemia de COVID-19, a taxa apresentou redução alcançando em 2021 valor de 2,1 a cada 100.000 habitantes. Em 2023, a taxa de internação voltou para 5,5 a cada 100.000 habitantes.

Pesquisa sobre obesidade

A literatura científica sobre obesidade no Brasil é robusta e diversificada, com várias universidades e institutos contribuindo significativamente para o tema. Dentre elas, destacam-se a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsáveis por conduzir estudos que abrangem diversos aspectos da obesidade, desde a epidemiologia e fatores de risco, até o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas.

Um tema central na pesquisa é a relação entre a obesidade e doenças crônicas, como diabetes e doenças cardiovasculares. Outro foco importante é a obesidade infantil, devido à crescente prevalência da condição neste grupo e as implicações a longo prazo para a saúde. Além disso, estudos sobre a influência da genética e do ambiente na obesidade também são relevantes. Essas pesquisas são fundamentais para entender melhor a obesidade e desenvolver estratégias eficazes de prevenção e tratamento.

Na Coleção de Documentos Científicos da Biblioteca do Observatório existem mais de duzentos artigos científicos sobre o tema. A maior parte deles foi produzida nos últimos cinco anos, com destaque para a Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento (RBONE) e a Revista Brasileira de Enfermagem (REBEn).

Artigos sobre o tema obesidade na Biblioteca do Observatório da APS.

A GEOGRAFIA DA OBESIDADE

Segundo dados do Vigitel, as capitais com maior prevalência de obesidade são Macapá (30,4%), Porto Alegre (28,3%) e Fortaleza (27,7%). A tabela a seguir apresenta informações sobre as prevalências de 2023 em todas as capitais brasileiras.

CAPITALUFPERCENTUAL
MacapáAP30,40%
Porto AlegreRS28,30%
Fortaleza CE27,70%
CuiabáMT27,20%
ManausAM27,00%
Campo GrandeMS27,00%
RecifePE26,30%
Rio de JaneiroRJ26,20%
Rio BrancoAC26,10%
BelémPA25,70%
SalvadorBA25,60%
AracajuSE25,00%
Boa VistaRR24,90%
CuritibaPR24,50%
São PauloSP24,30%
João PessoaPB22,40%
Distrito FederalDF21,90%
FlorianópolisSC21,90%
NatalRN21,90%
Porto VelhoRO21,80%
MaceióAL21,20%
TeresinaPI20,80%
Belo HorizonteMG20,70%
VitóriaES19,00%
PalmasTO19,00%
São LuizMA18,50%
GoiâniaGO17,70%
Fonte: Observatório da APS.

É importante considerar que o desenho e a implementação de políticas públicas com foco  no rastreamento, diagnóstico e controle da obesidade, estejam pautados na dimensão e magnitude desses percentuais, considerando as particularidades de cada região do país.

Como prevenir a obesidade?

A prevenção da obesidade é fundamental para a saúde pública no Brasil, dada a sua associação com várias doenças crônicas e relação estreita com a perda da qualidade de vida. As práticas de prevenção envolvem, principalmente, a promoção de estilos de vida saudáveis. Isso inclui a adoção de uma dieta equilibrada, rica em alimentos in natura como frutas, vegetais e grãos integrais, e pobre em alimentos processados e açucarados. A atividade física regular também é essencial, com recomendação de pelo menos 150 minutos de atividade física de  moderada intensidade por semana para adultos (OMS). Além disso, é importante o monitoramento regular do peso e do Índice de Massa Corporal (IMC). A prevenção da obesidade deve começar desde a infância, com a promoção de hábitos saudáveis nas escolas e em casa.

Faça uma busca a seguir sobre temas de interesse a respeito de como prevenir a obesidade nos documentos da biblioteca digital.

Políticas públicas de controle da obesidade

O desenho de políticas públicas para o controle da obesidade no Brasil deve ser multifacetado, abordando tanto a prevenção quanto o tratamento. Essas políticas devem incluir a promoção de estilos de vida saudáveis, com ênfase na alimentação adequada e na atividade física regular. Isso pode ser alcançado por meio de campanhas de educação em saúde, facilidade de acesso a alimentos saudáveis e criação de ambientes propícios para a prática de exercícios. Além disso, é fundamental o fortalecimento da Atenção Primária à Saúde (APS), com equipes capacitadas para identificar e gerenciar a obesidade. Isso inclui o monitoramento regular do peso e do IMC, aconselhamento nutricional e encaminhamento para especialistas quando necessário.

Outra política importante é a regulação da indústria alimentícia, incluindo a limitação da publicidade de alimentos não saudáveis, especialmente para crianças, e a rotulagem nutricional clara. Uma iniciativa que merece destaque é o Guia Alimentar para a População Brasileira, que acaba de comemorar 10 anos, e traz as diretrizes para uma alimentação adequada e saudável.

Por fim, é preciso incentivar a pesquisa e o monitoramento da obesidade, responsáveis por avaliar a eficácia das políticas implementadas e identificar áreas que necessitam de intervenção.

Projetos apoiados pela Umane nesse tema

Enfrentamento da Obesidade Infantojuvenil desenvolvido pelo Instituto Desiderata

Experiências que alimentam II desenvolvido pelo Centro de Recuperação e Educação Nutricional (CREN)